sábado, 18 de agosto de 2012

Médicos devem estar preparados para dar diagnósticos difíceis


Câncer descoberto precocemente tem cura; mas há estágios em que a recuperação é mais difícil ou até impossível


"Não achava que fosse grave. Só descobri quando comecei o tratamento. Pra mim, foi um choque, mas eu disse para o médico que eu queria a verdade". Depoimentos como o de Leonice da Silva, 35 anos, certamente são comuns. Ninguém espera um diagnóstico ruim. Há nove meses, Leonice deixou a família em João Pessoa, PB, para vir fazer o tratamento contra a anemia aplástica, doença em que a medula óssea deixa de produzir a quantidade adequada de sangue. Desde então, ela aguarda um transplante de medula alojada na Abraccia, associação de combate ao câncer.
Se é difícil para quem recebe, pode ser mais complicado ainda para quem dá a "sentença". Ser porta-voz de diagnósticos graves e, por vezes, irreversíveis, faz parte do dia a dia dos médicos, mas, para algumas especialidades, como a oncologia, o sofrimento emocional talvez seja maior, como explica Liane Rapatoni, médica da Divisão de Oncologia Clínica do Departamento de Clínica Médica do Hospital das Clínicas. "Muitas vezes a doença é descoberta em estágio avançado, quando não há mais cura. Também existe o estigma de morte, mesmo nos casos de prognóstico positivo", diz ela. Câncer ainda é tabu. Uma palavra muito forte.
Em casos assim, como os da paraibana Leonice, os médicos e profissionais acabam ficando ainda mais envolvidos, porque o contato com o paciente, ou com a família dele, é mais frequente", explica a médica Liane Rapatoni.
A forma como o profissional faz este tipo de abordagem e o primeiro impacto da má notícia pode ser tão determinante no sucesso e evolução do tratamento que no ano passado o Inca (Instituto Nacional do Câncer) e o Hospital Albert Einsten lançaram a cartilha ‘Comunicação de Notícias Difíceis: Compartilhando Desafios na Atenção à Saúde’. O SUS distribuiu a cartilha para todas as redes vinculadas.
Ajuda protocolar
Segundo Liane Rapatoni, existem alguns protocolos adotados mundialmente e que ajudam os médicos na abordagem. "O primeiro diagnóstico e a postura médica neste momento são muito importantes, sobretudo na perspectiva de tratamento", pontua.
Ela explica que o tempo e a experiência ajudam, mas que a grande maioria dos profissionais atuantes aprendeu "na marra’"
A médica conta que os médicos residentes sofrem no início e passam por um doloroso processo de adaptação, e que já se estuda a criação de um programa para orientá-los.
Segundo dados do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), na região de Ribeirão Preto estima-se uma média de 270 novos médicos por ano.
No Estado de São Paulo, a cada ano, a estimativa é de 2.800 novos alunos. Todos esses estudantes precisam do treinamento para encarar esse tipo de situação.
"No Hospital das Clínicas foi criada recentemente uma disciplina que trata sobre a comunicação de más notícias, mas a atenção para a questão, de modo geral, ainda é bastante insuficiente", afirma Liane.
"Há muitos profissionais que fogem das más notícias. É uma forma de proteção, porque, assim como quem recebe a notícia, também não sabem lidar com a questão", afirma o professor de oncologia Harley de Oliveira.
 Sábado, 18 de Agosto de 2012 - 20h30


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